Dentre as definições que compõe o significado de “Herói” no dicionário, podemos encontrar “Pessoa ou personagem de ficção que tem atributos físicos ou morais muito positivos.”, e quando tentamos encaixar essa definição nos personagens que são os nossos heróis, nos damos conta que os atributos morais nem sempre são tão positivos, as vezes até duvidosos, enquanto os atributos físicos são quase sempre impecáveis. E neste dia do nutricionista, levantamos algumas questões de símbolos de perfeição nos quadrinhos e no cinema.
Hoje é difícil imaginar um super-herói que não seja “supermusculoso”, mas se resgatarmos o primeiro quadrinho publicado da Marvel, em 1939, vemos a aparição de um Tocha-Humana com traços despreocupados quanto ao físico do herói. Já com a reaparição do personagem, na década de 60 quando Johnny Storm assume o título de Tocha Humana, notamos mudanças significativas nos traços do personagem. E quando transportado para o cinema, em 2005, o personagem ganha vida no corpo musculoso e impecável de Chris Evans.
É interessante observar como os símbolos evoluíram com os padrões de beleza da sociedade. E quando se trata da representação feminina, desde a aparição de Susan Storm, em 1961, o busto avantajado e a cintura fina são obrigatórios. Considerando a época, é completamente compreensível que a representação feminina em revistas destinadas a meninos fosse idealizada. E também não é surpresa que a adaptação para o cinema fosse diferente, com a personagem interpretada pela Jéssica Alba.
É difícil mensurar qual é o impacto dessas representações idealizadas na ficção no cotidiano das pessoas, porém é inquestionável que ele existe. A popularização das histórias em quadrinhos e das adaptações cinematográficas ajudaram a difundir um corpo de herói perfeito. E mesmo quando é deixado claro na obra ficcional que aquele corpo só foi conquistado devido a experiências de laboratório, ainda terão pessoas insatisfeitas com a própria imagem corporal, que irão buscar nesses personagens ficcionais exemplos a serem seguidos.
Este sentimento de insatisfação ainda é incentivado com a divulgação da preparação dos atores para os seus papéis nos filmes. Onde é transmitida uma sensação de força de vontade sem tamanha para atingir o corpo ideal, que em contrapartida pode acabar transmitindo uma sensação de culpa sem tamanho para aqueles que não realizam aquelas atividades. A preparação dos atores para os papéis costuma ser muito aplaudida e valorizada, e nunca é ressaltado os impactos para a saúde desses profissionais. No set de filmagem resultados rápidos são requisitados, porém replicar esses comportamentos para a sociedade pode ser muito desastroso, uma vez que não reflete em atitudes reproduzíveis ou saudáveis para o cotidiano da população.
Muito se discute sobre a representatividade na ficção, e em muitos casos ela é de extrema importância. Mas mais importante do que termos super-heróis gordinhos (ou no mínimo sem músculos hipertrofiados) nos quadrinhos e no cinema, é a necessidade de compreensão da diferença entre ficção e realidade. Compreensão que está cada vez mais ausente entre o público “geek”, levando a discussões banais em detrimento de discussões realmente relevantes para a comunidade.
E para aqueles que estão em constante busca de uma dieta de herói, lembrem que o Steve Rogers não se destacou por seus atributos físicos. E a preocupação com a nossa imagem não deve sobrepor a preocupação que devemos ter com a nossa saúde.